domingo, 26 de fevereiro de 2012

CARNAVAL CULTURAL DE CAMETÁ

Por: Carlos Alberto Amorim Caldas[i]
[i] Psicólogo e professor da  UFPA; mestre em Educação.



Nos idos anos 1980, as ciências humanas, em especial a Antropologia, binarizavam uma certa concepção de Cultura em cultura popular x cultura erutida. E nesta perspectiva, o Carnaval ora era tido como “cultura popular”, ora como “cultura erutida”; ou uma manifestação da cultura popular que havia ascendido a cultura erutida, pois tornara-se produto cultural de exportação.
         Assim o carnaval é esse misto de manifestações da tradição cultural dos diversos povos que compõem a diversidade da cultura brasileira – o caso do nordeste brasileiro é exemplar.
         Mas, por outro lado, o desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro e, mais recentemente, São Paulo traduzem a contradição entre o popular e o erudito: as camadas baixas da sociedade sambam formando as grandes alas e artistas, personalidades, socialites “abrilhantam” a festa como “destaques” dessa “ópera” popular que esbanja luxo e riqueza! A mídia mostra esses destaques e o chamado povo sustenta a festa.
         Se pudesse apropriar-me do conceito de Indústria Cultural, em Adorno e Horkheimer, escreveria aqui a expressão “resíduo da indústria cultural” e diria que o Carnaval de Cametá tornou-se isso: “resíduo da indústria cultural” dessa antiga polêmica antropológica que opunha Cultura Erudita X Cultura Popular; oposição binária que, obviamente, seria impensável para Adorno e Horkheimer.
         O professor Daniel Ribeiro da Silva (2002) nos diz que Adorno (1999) afirma que “na Indústria Cultural, tudo se torna negócio. Enquanto negócios, seus fins comerciais são realizados por meio de sistemática e programada exploração de bens considerados culturais”.
         Então fica evidente porque o desfile de escolas de samba e os blocos alternativos são relegados a um plano inferior na “programação” do Carnaval de Cametá. Embora nem mesmo esta perspectiva empresarial do carnaval como produto da indústria cultural é valorizada pelos organizadores do carnaval em Cametá.
Analisar, então, as manifestações quase espontâneas e as iniciativas quase empresarias que se apresentam, pois o poder público está quase ausente também no carnaval, como política cultural. Aliás, a forma como o Carnaval de Cametá vem se apresentando nos últimos anos denota essa falta de planejamento e execução de políticas nos diversos setores da administração pública.
         Tomaria aqui o samba de cacete, os fofos de famílias e de grupos de amigos e talvez as agremiações tidas como blocos e/ou escolas de samba como exemplos da “resistência cultural” – no aspecto de manifestação popular do Carnaval cametaense. Sintomaticamente não se teve sequer notícias de manifestações como a “Bicharada da Vila de Juaba” neste carnaval de 2012.
         Na outra ponta estão os “novos” blocos - mímica do carnaval de Salvador - com trios elétricos, vendas de abadás e festas de concentração. Exemplares claros dos resíduos da indústria cultural e que animam e levantam plateias, sem qualquer necessidade do poder público, fazem seus negócios empresarias e ainda auxiliam a administração pública a camuflar sua ausência como promotores de políticas culturais para o município.
         Até isso é lamentável, não alcançamos sequer o nível de produtos da Indústria Cultural, restaram apenas os resíduos, para uma festa “popular” – isto acaba sendo outro engodo, haja vista o carnaval de Cametá ter um preço consideravelmente elevado em relação a outros municípios paraenses – onde prevalece a relação comercial entre quem vende o que chamo “resíduo da indústria cultural” e quem consome. Sem considerar as práticas que – se não constituem – beiram o estelionato, como anunciar artistas e promoções que não acontecem ou cancelar festas, desfiles e similares sem nenhuma explicação aos consumidores. De novo a ausência do poder público!
         E aí, ao final, a diversão acaba sendo escolha e investimento individual.

Cametá, 24 de fevereiro de 2012.

Por: Carlos Alberto Amorim Caldas[i]
[i] Psicólogo e professor da  UFPA; mestre em Educação.

4 comentários:

  1. Não poderia ser melhor Carlos... Parabéns!!!

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  2. Não poderia ser melhor Carlos... Parabéns!!!

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  3. o texto consegue fazer um retrato da realidade carnavalesca cametaense. as críticas são totalmente aceitas em relação ao desenvovimento cultural cametaense.

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  4. o texto consegue fazer um retrato da realidade carnavalesca cametaense. as críticas são totalmente aceitas em relação ao desenvovimento cultural cametaense.

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