quarta-feira, 4 de abril de 2012

Por uma Política Ético-Estética


Carlos Alberto Amorim Caldas[i]
Recentemente em uma solenidade de formatura, turma de professores licenciados em Letras, na Universidade Federal do Pará/Campus Cametá, a professora Lucilena Gonzaga Tavares – uma das mulheres homenageadas da turma – cita o escritor português José Saramago: “A ética é a mais bela de todas as mulheres”. E comenta que às “mulheres” cabe perseguir esta beleza e os homens é tradição conquistarem mulheres belas.
            Tanto Saramago quanto Lucilena sabem que o conceito de belo é intrínseco à ética! Para os gregos da Antiguidade Clássica o Belo é Bom e o Bom é Belo. É ética então é essa imbricação bom-belo-bem. O sujeito ético caminha, portanto no sentido da construção do Bem Comum, o que o faz bom e belo, concomitantemente!
Costumamos, por isso, dizer que todo aquele que fere a Justiça, que fere a Moral, que conturba a Paz social – dentre outros princípios – é antiético!
Parece infelizmente que as cidades/pólis carecem de sujeitos éticos!
Assim, cidadania é um conceito pragmático que parece necessitar da ética, nessa perspectiva de construção coletiva do Bem. Cidade. O termo grego que a designa é pólis. E na pólis existe a ágora = praça, logadouro público.
Mas acompanhe meu raciocínio. Os cidadãos (cidade/pólis) gregos, na Antiguidade, se reuniam na ágora (espaço) para dialogar, discutir, decidir os rumos da sociedade. Não foi à toa que eles, os cidadãos gregos, inventaram a Democracia (demos=povo; cracia=governo) ou governo conduzido pela população. Isso me lembra orçamento participativo, assembleias setoriais, poder delegado, câmaras legislativas, etc. e participação dos cidadãos.
Isso me faz lembrar que o administrador público – olha aí o outro termo originado da organização social na Grécia Antiga: República (res=coisa; publica=do povo) – tem obrigação moral de ser ético, pois está a serviço do bem coletivo.
Mas que vem a ser moral? Antecipando, pois, moral e ética também se relacionam intimamente:
A Moral sempre existiu, pois todo ser humano possui a consciência Moral que o leva a distinguir o bem do mal no contexto em que vive. Surgindo realmente quando o homem passou a fazer parte de agrupamentos, isto é, surgiu nas sociedades primitivas, nas primeiras tribos. A Ética teria surgido com Sócrates, pois se exigi maior grau de cultura. Ela investiga e explica as normas morais, pois leva o homem a agir não só por tradição, educação ou hábito, mas principalmente por convicção e inteligência. Vásquez (1998) aponta que a Ética é teórica e reflexiva, enquanto a Moral é eminentemente prática. Uma completa a outra, havendo um inter-relacionamento entre ambas, pois na ação humana, o conhecer e o agir são indissociáveis.[ii]
            Ética, nesta perspectiva, é, portanto, um produto de elevado grau de civilização da humanidade; oposto à barbarização desta. Mas houve um momento na história humana ou da civilização (oposta à barbárie) em que o amalgama ética-estética proposto pelos gregos foi desfeito. Esse momento será a recente ascensão de Adolf Hitler ao poder, na Alemanha nazista, com os consequentes holocausto e II guerra mundial.
            Nos campos de concentração nazista os torturadores/genocidas/assassinos se deleitam ouvindo a beleza da música clássica/erudita enquanto matavam e torturavam.
E, o plano de invasão à França, pelas tropas nazistas, é modificado e preservam todos os monumentos, museus e obras de arte da bela Paris. O horrendo, feio, Hitler e seus comparsas nazistas cultivavam a beleza da música clássica/herudita e a arquitetura e arte da eterna Paris. Funda-se assim a dissociação entre belo e bom. A partir de então, não mais, necessariamente, o que é belo é bom/bem e vice-versa.
            Contudo diante dessa constatação, o que precisamos é retomar a intima ligação entre o Bem e o belo. Um pós-neo-classicismo no sentido de estabelecermos, na vida pública, também, as possibilidades ético-estéticas cultivadas pelos filósofos da civilização antiga.
           




[i] Psicólogo, mestre em educação UFPA.

Um comentário:

  1. Muito bom esse texto, amigo Carlos Amorim Caldas, você é uma pessoa que engrandece a todos com a sua presença!

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