terça-feira, 13 de março de 2012

CARNAVAL CULTURAL DE CAMETÁ – parte II


Carlos A. Amorim Caldas

MENINAS! Li, em uma coluna assinada, no Jornal Informe Popular no. 85, 1º. a 29/02/2012, que além de fazer comentários UFANISTAS sobre o Carnaval de Cametá, apresenta entre zilhões de possibilidades de diversão neste carnaval, o seguinte: “Tem concentração, muita bebida, comida e mulher ‘de graça’ pra conquistar, mas não esqueça a camisinha em casa para não aumentar a população”...
Daí, meninas, posso depreender desse trecho: 1) Gravidez representa mais perigo que a contaminação por DST’s e HIV/AIDS?; 2) Será que o autor escreve “mulher ‘de graça’” porque está faltando o Homem ‘no mercado’ pra conquistar; ou 3) Será que teremos que ‘pagar’ para conquistar o que restou do ‘produto’?
Mas, brincadeiras à parte, meninas, o que está em questão é que a coluna traz à tona uma coisa que, além de estar fora de moda, também causa danos à saúde pública: o famigerado MACHISMO...
Aliás, quando a coluna se refere ao Fofó das Virgens não perde a oportunidade de para expressar machismo e outros “ismos”. Está escrito lá: “Tem fofó das virgens para quem quer sair do guarda-roupa”...
Pelo menos na minha compreensão, o fofo das virgens é uma saudável brincadeira que vem desbancar essas posições binárias do sexo. Neste ano mesmo de 2012, quando meu sobrinho Carlos Eduardo Amorim Caldas e suas três amigas que vieram com ele passar o carnaval conosco vestiam para o fofo das virgens pude observar em seus comentários como essa simples brincadeira de vestir-se com as roupas do sexo oposto pode nos proporcionar refletir sobre alteridade - colocar-se no lugar do outro. Elas comentavam o quanto é incomodo usar uma roupa que nos aperta por baixo, roupas masculinas justas que aumentam o calor. Ele não encarou o salto alto e comentava sobre a “tortura” da maquiagem. Sem falar na diferença de corte e do uso de cuecas e calcinhas! Se quiséssemos caminhar por uma compreensão mais, digamos, antropológica, a festa também serve para isso: diminuir ou baixar a censura e se permitir experiências e sensações que no cotidiano não são permitidas, pelo grupo social. O Carnaval é exemplar disso!
Antes do trecho que fala do fofo das virgens temos um que diz: “...e as aparelhagens de Belém com o tal de Melody para encher o saco. Mas tem gente que gosta e daí... tem gosto pra tudo...”
Até posso concordar que o nosso carnaval de Cametá não é o local adequado para as festas de aparelhagem e o melody! Mas, a despeito disso, festas de aparelhagens e o Melody em suas diversas versões constituem arranjos culturais que as pessoas das áreas periféricas de Belém (aí incluímos as cidades do entorno de Belém) construíram como alternativas de diversão, lazer, cultura como resistência às formações cristalizadas de opções de lazer, cultura, diversão. E do ponto de vista musical a mistura de sons, batidas e o “encaixa de composições” de [i]melodias de diferentes tradições musicais que o melody nos apresenta é extremamente moderno, revolucionário! Daí porque o Melody, o Funk, o Happie, dentre outras formas de resistência cultural, sofrem tanto preconceito em um país que tem preconceito e exclui os pobres, mas não erradica a pobreza!
Mudando de assunto mas não de sua posição CONSERVADORA a coluna anuncia que “O piso Nacional dos Professores aumentou (grifo meu) para R$ 1.451,00 um reajuste (grifo meu) de 22,22% que deve ser obedecido por todos os estados e municípios brasileiros, o valor fixado pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC)[ii]”. A coluna perde a oportunidade de mostrar à opinião pública que infelizmente no Pará a “justiça” não respeita a Justiça e, no ano passado, o Governo Estadual do Pará, nem somente não obedeceu a Lei – empurrando os professores à greve – e por cima ainda arranjou um “jeitinho” dessa “justiça” marrom/cinzenta/esfumaçada do Pará declarar a ilegalidade da greve...Dá entender que a coluna sai até em defesa dos “pobres” dos governadores contra os “ricos” salários de professores quando informa que os governadores recorreram mas o STF garantiu a Lei e o piso nacional dos servidores e que eles, governadores, andam de pires na mão atrás de recursos adicionais para pagar salários de professores. Eu só posso reforçar a campanha: 10% do PIB para a Educação!
            Mas, finalizando, e falando ainda em Carnaval a coluna faz uma pergunta exclamativa “pode até ter faltado gente...” E nós continuamos a interrogação: porque será que os turistas não estão mais vindo participar do Carnaval de Cametá como em anos anteriores?
            E por ser “Cametá... a cidade das contradições”; parabéns à todos aqueles que fizeram o Carnaval de Cametá em 2012, na quase ausência de organização e divulgação. Quanto à coluna de Luís Peres leio-a e recomendo por considerá-la um ótimo instrumento de informação, por isso a comento!



[i] Carlos A. Amorim Caldas, psicólogo e professor da UFPA-Campus Cametá, mestre em educação.
[ii] O MEC é o ministério da Educação; o MINC é o ministério da Cultura.

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